domingo, 17 de julho de 2011

Cobra-Grande ameaça Paraibuna

Na semana passada, quarta-feira, a Cobra-Grande deu uma remexida sob o solo paraibunense, sacudindo a cidade. O fato foi notícia na imprensa. Lembrei-me de uma aventura no início da década de 90.


O remelexo do ofídio

Naqueles dias, ela estava bastante agitada. A cidade tinha tremores a toda hora, assustando os moradores, que estavam sempre alertas.

Eu devia estar na quinta ou sexta série, não me lembro exatamente. Mas numa manhã, da sala de aula, o dia era noite lá fora. Nuvens pesadas bloqueavam a luz do Sol, escurencendo o céu. Uma tempestade estava prestes a despencar. E a cidade tremia com os remelexos do ofídio. Decidi que era hora de agir. Uns anos antes já tinha salvo a cidade do Apocalipse bíblico. Anos depois, viria a nos livrar de um ataque alienígena.

O Henrique, o Paulinho e eu planejamos livrar a cidade da maldição da Cobra-Grande.


A maldição da Cobra-Grande

Há mais de um século um padre desgostoso com a cidade, havia amaldiçoado o local, dando origem ao monstro. Acomodado embaixo da terra, essa cobra gigantesca um dia se levantará para destruir a cidade. Quando isso acontecer, derrubará a represa e as águas só não encobrirão a cruz do templo da Matriz. Como aquele pároco maligno previu a construção da represa décadas antes de 1960, é o que mais me assombra na perspicácia do rapaz.

Bem, o único jeito de derrotar a Cobra-Grande é um livro que estava escondido na Igreja do Rosário, na época sob reforma. Ela fica próxima à Santa Casa. Mas, não só isso, o livro com o segredo da maldição estava protegido pelo Morcego-Gigante, de quase dois metros de altura. Era uma missão assustadora. Alguém tinha que fazer alguma coisa antes que fosse tarde demais. Mas era época de prova, salvaríamos o mundo, então, nas férias.


O Morcego-Gigante

Assim, enquanto as demais crianças tiravam aquele mês de julho para descansar da dura rotina diária, nós nos aventuramos na missão suicida. Numa manhã estávamos postos frente a Igreja do Rosário. Os acessos, portas e janelas, estavam bloqueados por tábuas. As obras da reforma tornavam o seu interior escuro e perigoso. Mas entramos. O combinado era todos estarem ali fora antes do “Jaspion”, na TV Manchete à tarde. Quem não estivesse lá, seria deixado para trás.

O Henrique ficou à porta, segurando uma tábua que havíamos deslocados para nos dar passagem. Ao mesmo tempo que ele cuidava da saída, garantia luz no interior.

O Paulinho ficou na nave, que é o salão principal da igreja. Ele iluminava tudo com a laterna e me dava apoio.

Eu desci ao porão, atrás do livro e do Morcego-Gigante.

Conforme o plano, o Paulinho fez barulho na nave, chamando a atenção do bicho. Assim, eu poderia procurar o livro com mais segurança. E, lá em cima, seria mais fácil deles escaparem.

Quase tudo deu certo. Encontrei o livro, empoeirado, junto a um monte de quinquilharia. Devia pesar uns três quilos, com 30cm de altura, 10cm de largura, e uns 7cm de grossura.

Desajeitado, eu saía do porão abraçado com o livro, quando alguma coisa segurou minha perna esquerda. Desesperado, mas sem soltar o livro, chamei pelo socorro. O Paulinho jogou luz em cima de mim, o que deve ter afastado o bicho. Tenho a cicatriz até hoje.

Nós dois corremos em direção à porta, onde o Henrique nos esperava, e saímos em segurança. De lá de dentro vinha o rosnado raivoso e o farfalhar de asas que nos alertou que, enquanto estivéssemos com o livro, não estaríamos seguros.


A cidade protegida

Marcamos então uma reunião com o Prefeito, o Padre, o Juiz e o Padeiro para aquele mesmo dia, antes do Jaspion. Foi decidido que o livro ficaria em um lugar seguro e secreto, para que o Morcego-Gigante não o encontrasse.

Esse livro continua guardado até hoje, esperando a fatal hora em que terá que ser usado contra a Cobra-Grande. O Morcego-Gigante ainda é visto, às vezes, pela madrugada, sobrevoando a cidade, entrando em prédios públicos e até religiosos a procura do livro.

Se alguém dúvida dessa história, basta lembrar da máxima de George Orwell: “A história é escrita pelos vencedores”. Pois bem, não é o Morcego-Gigante que assina este texto.

Hoje, aguardo o dia em que esse poder executivo irá acordar de vez, deixando sua providencial acomodação. Quando vencermos esse dia, aí, sim, a cidade será dos paraibunenses novamente.

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